Design Livre como Práxis

Já parei muitas vezes para pensar o que é afinal o Design Livre. Tentar encaixá-lo em uma definição a ponto de poder compará-lo a outros Designs, como o Design de Produto, Gráfico, de Interação, Interiores, de/para Experiência do Usuário, e muito outros.

Carburador não foi projetado pensando na liberdade? E se estragar, como faz?
Carburador não foi projetado pensando na liberdade? E se estragar, como faz?

 

Procurei, e neguei um a um.

Design Livre não é metodologia.
O que é? Metodologia é um modo de conduzir, de analisar, de definir, categorizar.
E o DL? não conduz, não analisa, não define, não categoriza.

Design Livre não é método.
O que é? Método é um conjunto de instrumentos e ferramentas orientadas a um objetivo.
E o DL? não prediz instrumentos ou ferramentas, muito menos apresenta um objetivo único.

Design Livre não é disciplina.
O que é? Disciplina é um conjunto de conhecimentos teóricos.
E o DL? não define nenhum corpo de conhecimentos teóricos.

Design Livre não é técnica.
O que é? Técnica é um punhadinho de instrumentos e ferramentas orientadas a um objetivo.
E o DL? Não.

Design Livre não é ferramenta.
O que é? Ferramenta é um conjunto de procedimentos com objetivo modificável.
E o DL? não é um conjunto de procedimentos.

Design Livre não é instrumento.
O que é? Instrumento é um conjunto de procedimentos com objetivo fixo.
E o DL? Não.

Design Livre não é regra.
O que é? Regra é algo criado para definir o que é normal e o que é anormal.
E o DL? Regra, que regra?

 

Então?
Então talvez não exista uma solução única (o que na verdade eu creio que seja).

No entanto, gosto de pensar que Design Livre é práxis.

Práxis, conforme Marx, é uma atividade teórico-prática onde a teoria é modificada pela prática e a prática pela teoria. Práxis é uma ação de transformação do mundo pelo sujeito e do sujeito pelo mundo transformado.

Práxis não é a mesma coisa que Prática. A prática é ação formalizadora, que confirma o paradigma predominante. A práxis é ação reflexiva, onde o sujeito assume sua responsabilidade, com consciência e escolhas justificadas. É alterar as circunstâncias, entender seus resultados e as novas circunstâncias geradas. Para Marx essa compreensão evita a cristalização das ideias, a criação de dogmas, alienações, dando liberdade aos sujeitos.

Morin apresenta a práxis como um conjunto de atividades a partir uma competência, em nosso caso a competência de projetar. Atividades estas que efetuam transformações, produções, performances.

Design Livre é a práxis da liberdade de projetar. É o Calvinbol do Design!

Calvinbol e Design Livre: crie suas regras, veja os resultados, modifique-as e seja modificado
Calvinbol e Design Livre: crie livremente suas regras, veja os resultados, modifique-as e seja modificado

 

Bibliografia

Thiollent, Michel. Metodologia da Pesquisa-ação.
Vassão, Caio Adorno. Arquitetura Livre: complexidade, metadesign e ciência nômade.
Comunidade Faberludens. Design Livre.
Morin, Edgar. O Método I: a natureza da natureza.
Coelho, Luiz Antônio L. (org). Conceitos-chave em design.
Wikipédia. Artigos: Práxis, Metodologia, Método, Design.
Watterson, Bill. Tudo do Calvin & Haroldo.

3 thoughts on “Design Livre como Práxis”

  1. Profundo Ruckert! Concordo contigo que Design Livre não é teoria e nem prática. O Design Livre é mais uma atitude em relação ao mundo do que um conhecimento do mundo, seja ele prático ou teórico. Praxis é um bom nome pra descrever isso!

    Eu reconheço três elementos na atitude livre:

    – senso crítico sobre o estado das coisas
    – autonomia projetual
    – esperança de um mundo melhor

    Não gosta de algo? Consegue fazer melhor? Vai lá e faz. Esse fazer não é carente de reflexão, pois surgiu de uma crítica. É uma forma de falar com as mãos. Por outro lado, a fala também é parte do fazer. Compromissos, xingamentos, palavras de ordem, elogios tem consequências muito práticas no que fazemos.

    Considerando essa circularidade de fato não faz sentido separar teoria de prática como dois momentos separados: ação e reflexão. Os dois acontecem ao mesmo tempo!

    1. Valeu Frederick!
      Gostei muito da ideia de elementos da atitude livre. Talvez mais um bom ponto para próxima versão do livro, com exemplos de projetos que contemplem as três atitudes (dá pra “roubar” vários do Faberludens mesmo).

  2. Descobri – ou melhor, estou descobrindo – o livro Design Livre hoje e achei fanatástico. Estou lendo ainda, e ele está me prendendo bastante a atenção, mas o que achei mais interessante foi esta ideia de um livro completamente livre: livre distribuição, feito com software livre… muito legal! Parabéns pela iniciativa!

Comments are closed.