Animação produzida pelo estúdio ThinkPublic para mostrar que todas as pessoas em algum momento da vida pensaram como designers e podem pensar ainda mais.
Category: Ideias
Seminário Loop: Design Livre com Rodrigo Gonzatto
Hangout realizado em 10/julho/2014, para o Seminários Métodos e Práticas de Projeto, organizado pelo Hugo Cristo no Loop – Laboratório e Observatório de Ontologias Projetuais da UFES. Falamos de Design Livre, livro do Design Livre, Corais.org, algumas questões sobre método/fazer design e questionamentos sobre quem é designer.
Criação colaborativa e online de REA com Design Livre e Corais.org
A ideia de REA (Recursos Educacionais Abertos) está fortemente vinculada à um sentido social de colaboração à uma comunidade. Geralmente, sua contribuição fica na DISTRIBUIÇÃO de arquivos de forma aberta, permitindo uso, distribuição e reuso (remix). Entretanto, REA também podem ser colaborativos na sua CRIAÇÃO, seja de novos REA ou de remix (versões derivadas de outras).
Criar e projetar REA com outras pessoas, de forma online e a distância é diferente de fazê-lo presencialmente. Algumas das dificuldades: como se comunicar rapidamente? Tomar decisões? Coordenar tarefas? Ver o trabalho dos outros e trocar arquivos? Não misturar versões e não se perder no meio do processo?
Algumas ferramentas podem ajudar, como Dropbox (para troca de arquivos), Google Drive (para troca de arquivos e edição online de textos, imagens, etc), Facebook ou mesmo blogs (como o Blogger). Porém, estas são ferramentas proprietárias e fechadas. Se um grupo de pessoas quer utilizar ferramentas abertas e livres para produzir Recursos Educacionais Abertos, uma saída é utilizar ferramentas como Wikis, edição simultânea de textos do EtherPad https://etherpad.mozilla.org/ e ferramentas de blog e redes sociais como o WordPress, Drupal ou Moodle.
O Corais www.corais.org é uma plataforma para realizar projetos colaborativos, que une em um só lugar ferramentas software livre como o EtherPad, chat, banco de imagens, arquivo, blog, Wiki, gerenciamento de tarefas, etc,
Pelo Corais é possível que várias pessoas trabalhem em projetos de REA (e também em outros, que não são de REA) de forma online, colaborativa e a distância. Esta plataforma trabalha com a ideia de DESIGN LIVRE, https://designlivre.org/category/definicoes/ um processo colaborativo orientado à inovação aberta, que acredita que pessoas com as mais diferentes habilidades, cada uma com seu conhecimetno, podem todas participar da elaboração de coisas digitais.
Livro sobre o que é o Design Livre: https://designlivre.org/download/
Vídeo explicando o que é a plataforma de projetos colaborativos: http://vimeo.com/42226869
A caixa preta do design
Na palestra que dei com meu filho na Campus Party, fiz uma distinção entre Software Livre e Design Livre. Embora existam exceções, em geral, o processo de design em projetos de software livre não é tão óbvio, aberto e participativo quanto a escrita do próprio código-fonte. A documentação é escassa e os meios de participação para usuários são restritos. É como disse numa palestra em 2006: “Quem não codifica, não apita”.
Enquanto no software proprietário, o design é um segredo guardado a sete chaves e o produto não oferece o código fonte (exemplo clássico: Apple), no Design Livre tanto o produto quanto o design são abertos à leitura e à participação. A caixa preta da Apple faz as pessoas acreditarem que ao possuirem seus produtos, terão acesso à criatividade que os gerou, o que não necessariamente é verdade. A caixa preta cria a ilusão de que algo que está sob controle pois funciona, quando na verdade não está, pois desconhece-se seus funcionamento.
No livro do Design Livre a gente escreveu o seguinte:
O Software Livre busca libertar os usuários da caixa preta. Entretanto, mesmo abrindo as caixas, temos outros códigos e questões não-codificáveis que estão além dos códigos de programação do software, como a emoção, cultura, política, que também fazem parte do processo. Assim, um código aberto pode ser também uma caixa preta, se o processo de desenvolvimento dele for uma caixa preta.
Ainda não existem métodos e ferramentas estabelecidas para promover essa abertura do processo de design. O que nós sabemos é que não adianta apenas disponibilizar o código-fonte, é preciso disponibilizar rica documentação sobre o processo de design e promover a co-criação num processo contínuo, que não termina quando o produto está funcional.
É uma questão a se pensar. O que eu apresentei na palestra foi a maneira como envolvia meu filho nos projetos de jogos que fazia para ele, o que mais tarde lhe deu base projetual para criar seus próprios jogos. Embora o acesso e domínio sobre o código-fonte tenha sido importante para ele desenvolver suas ideias a ponto de funcionarem, antes disso ele já tinha a base projetual que o permitia imaginar e prototipar jogos utilizando papel, papelão, brinquedos e outros materiais.
Por isso que a gente enfatiza tanto que Design Aberto (Open Design), com o código-fonte aberto, não é suficiente para garantir a liberdade projetual. Daí o nome Design Livre.
O anteprojeto e o antiprojeto do design livre
Uma conversa minha com o Gonzatto em 3 de outubro de 2010 sobre o projeto de mestrado que ele elaborava para o PPGTE. A proposta era estudar design livre a partir dos escritos de Vilém Flusser, autor de Uma Filosofia do Design, Mundo Codificado, Filosofia da Caixa Preta e outros livros geniais.
Essa conversa mostra algumas das questões que motivaram desenvolver o conceito de Design Livre. Algumas se perderam no meio do caminho, outras ficaram. Alguém afim de trazê-las de volta à baila?
Primeira conversa sobre Design Livre registrada no Faber-Ludens
Vasculhando no meu email, encontrei a primeira conversa em que o termo foi mencionado, em 2009. O Gonzatto estava fazendo um trabalho sobre metodologias de design na disciplina do Renato Costa e mandou por email um rascunho de um texto que usava o termo pela primeira vez. O texto dava nome a prática de projeto que já estava sendo desenvolvida no Instituto naquele momento, com projetos de alunos abertos, licenças creative commons e participação de usuários.
Rodrigo Gonzatto | 14 de julho de 2009 16:38 | |
Para: Frederick van Amstel , Renato Costa
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Frederick van Amstel | 14 de julho de 2009 17:02 | |||||
Para: Rodrigo Gonzatto
Cc: Renato Costa
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Rodrigo Gonzatto | 14 de julho de 2009 18:42 | |
Para: Frederick van Amstel
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Renato Costa | 14 de julho de 2009 20:57 | |
Para: Frederick van Amstel
Cc: Rodrigo Gonzatto
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Frederick van Amstel | 15 de julho de 2009 03:46 | |
Para: Rodrigo Gonzatto
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O Gonzatto postou e o texto virou referência.
Cultura maker: quando o fundo de quintal vira vitrine
Semana passada estive na Maker Faire in Roma, a primeira edição completa organizada fora dos Estados Unidos. Eu esperava algo bem pequeno, mas quando vi o prédio onde seria o evento já percebi que algo muito importante estava acontecendo.
O Palazzo dei Congressi é um dos prédios construídos por Mussolini para abrigar uma feira internacional que nunca aconteceu devido à Segunda Guerra Mundial. A feira tinha o objetivo, dentre outros, de mostrar a produtividade industrial do regime fascista.
70 anos depois, a Maker Faire mostrou a produtividade da cultura maker em toda a Europa. Mais de 200 grupos expuseram na feira suas criações de fundo de quintal. Brinquedos, impressoras, instrumentos musicais, e robôs, fabricados em casa ou em pequenos escritórios, com materiais de baixo custo e tecnologias de produção simples.
Bicicleta com quadro de madeira.
Scanner de objetos em 3 dimensões feito com webcam e feixe de laser simples.
Luva de realidade virtual baseada em Arduino e sensores de flexão.
Balão metereológico baseado em Arduino e gás hélio.
Almofada que responde ao usuário com grunhidos e vibração.
Instrumentos musicais costurados em tecido.
Jogo de tabuleiro baseado em sensor de ondas cerebrais plugado numa Arduino.
Sequestrado de carbono baseado em cultura de algas.
Esses foram alguns dos projetos que eu consegui ver e falar com os makers, porém, muitos não dava nem pra chegar perto, pois a feira estava lotada! A visitação foi massiva. A foto abaixo é de um dos 10 pavilhões, todos apinhados de crianças e adultos querendo saber como é que o sujeito fez aquela coisa.
Chris Anderson, anuncia no livro Makers (disponível em português) que estamos presenciando uma nova revolução industrial. O que hoje é uma brincadeira de hobbistas pode virar no futuro um modo de produção generalizado. Ao invés de comprar produtos industrializados, as pessoas iriam fabricar o que precisam em suas casas ou em birôs de fabricação próximos à sua casa.
Na minha opinião, o movimento ainda não adquiriu as características de um sistema de produção global que justifique chamar de revolução. A sustentabilidade ainda é uma grande incógnita, tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista ambiental. Porém, acredito que terá grande relevância para as futuras gerações.
Hoje um dos grandes desafios do atual sistema produtivo é a formação de mão-de-obra técnica e, ao mesmo tempo, criativa. A cultura maker cria motivação para desenvolver essas habilidades durante o tempo ocioso. Ela cria uma ponte produtiva entre o mundo do trabalho e o mundo da vida pessoal. Os produtos feitos pelos makers podem não ser úteis, mas o processo de produção gera um conhecimento muito mais precisoso que o próprio produto. No mercado de trabalho, isso é um grande diferencial.
Os pais que já sacaram isso estão imergindo seus filhos na cultura maker. Meu filho, por exemplo, já brinca com Scratch e Arduino. Na Maker Faire, vi dezenas de crianças como ele. Os europeus vêm na cultura maker uma aposta para superar as contradições do sistema produtivo atual, que levou a maior parte das fábricas (e empregos) para a China. Eu acredito que a cultura maker tem maior potencial em transformar os hábitos de consumo, de uma perspectiva passiva e desinformada, para uma perspectiva consciente e engajada.
Design livre é o design da criança
Uma das primeiras coisas que toda criança aprende é a projetar, ou seja, a transformar a imaginação em realidade. Na verdade, o projetar é uma das maneiras como a criança aprende sobre suas próprias capacidades, as capacidades dos objetos ao redor, e os limites impostos pela sociedade sobre ambos.
A criança tem uma ideia e projeta essa ideia num objeto. O objeto é modificado, seja no seu significado, uso, ou funcionamento. As modificações mais radicais acontecem quando objetos são combinados de forma inusitada. Novas ideias surgem à partir dessas modificações e o projeto avança.
O projeto, vale lembrar, acontece sempre dentro de uma estória. A criança projeta para atuar na estória, contracenando com outras crianças e adultos. A narrativa, assim como o projeto, combina elementos reais e imaginários e permite a criança considerar outras possibilidades de atuação. A narrativa dá sentido ao projeto e o projeto, por sua vez, dá continuidade à narrativa. Os vídeos da etnografia Território do Brincar mostra isso claramente.
Os objetos podem também ser o ponto de partida de uma narrativa. Isso é facilmente observável se a criança for levada para um ambiente estranho, com objetos que ela não conhece, onde ela deve esperar por algum tempo um adulto fazer algo. A criança dá sentido à situação sem sentido.
A criança explora propiciações que jamais adultos considerariam. Aperta aqui, puxa dali, entorta, tenta de outro jeito. A criatividade no uso pode ir muito além da criatividade no projeto. Veja como a cadeira abaixo se transforma, pouco a pouco, num escorrega.
Crianças que são estimuladas apenas a brincar com brinquedos industrializados da maneira como eles foram projetados para ser brincados, não desenvolvem a habilidade de projetar no mesmo grau.
Brinquedos com formas realistas demais, materiais inflexíveis, marcas, manuais de instrução são as várias formas como a indústria de brinquedos evita que o projeto da criança aconteça espontaneamente. O brinquedo perde a graça rapidamente e o consumismo impera.
Por outro lado, brinquedos feitos com materiais flexíveis, modificáveis, de formas genéricas, customizáveis, modulares, tem maior durabilidade, em termos de diversão. O esforço inicial de brincar é maior, pois o sentido não vem embutido.
Algumas pessoas perdem esse despudor de projetar livremente quando crescem, outras mantém. As escolas que trabalham com pedagogia de projeto ajudam a manter e a desenvolver as habilidades de projetar, porém, em última análise, esta é uma questão social. Se a escola é um oásis no meio de uma sociedade que inibe a liberdade de projetar, não há garantia alguma de que a criança desenvolverá estas habilidades. Pode acontecer o contrário, da criança se sentir envergonhada porque em casa brinca somente com brinquedos de madeira, enquanto que o amigo brinca com bonecos de personagens de televisão famosos.
O professor Antonio Fontoura defende que design seja parte do currículo escolar básico. Eu acho uma boa ideia, porém, sem uma cultura de projeto, não fará sentido. Em primeiro lugar, é preciso desfazer essa noção de que só designer profissional faz design. Como a gente diz no Design Livre: “libertar o design do designer”. Sem isso, como justificar que toda criança deve aprender design?
Em segundo, é preciso tratar as crianças como especialistas, ao invés de alunos. Trabalhar à partir do que elas já sabem fazer e expandir. Os materiais devem ser os disponíveis na região. A pluralidade de materiais, métodos, ferramentas, sentidos deve ser o principal valor a ser cultivado.
Em terceiro, a mudança deve ir além da escola. Programas de televisão, revistas, websites, lojas de brinquedos teriam que dar mais espaço ao projeto infantil. Haveriam concursos, exposições, e prêmios para o design das crianças.
O design já é livre enquanto criança. Se mantermos ele livre o resto da vida, então teremos um outro tipo de sociedade, menos consumista creio eu.
O que as manifestações podem aprender do código livre
Poderia eu tentar contextualizar as manifestações, mas acredito que muito foi dito no Impedimento, no Incandescenciae por este texto.
Fato que elas (as manifestações) tomaram dimensões não esperadas, com muitas pessoas dispostas a ajudar e outras querendo sabotar. Assustando governos, jornais e até os que encabeçaram as primeiras passeatas.
Cada dia que passa mais dúvidas vão surgindo na cabeça de todos: Como gerenciar tantas pessoas? O que estamos protestando? Quem são as pessoas que saqueiam e vandalizam? Porque a PM mudou de comportamento? Como aproveitar toda essa boa vontade? Pode tudo isto virar em nada? Ou acabar indo pro lado errado?
Questões que só os historiadores poderão responder, mas é fato que a grande mídia e os ‘políticos’ espertos inverteram seus discursos a fim de tentar tirar proveito de alguma forma deste movimento que não possui líderes, não possui ordem específica e se comporta imprevisivelmente.
Por isso acredito que podemos aprender muito com a comunidade do Opensource, também chamda de Código Livre, onde um número ilimitados de pessoas trabalham em conjunto em um código específico e de maneira TRANSPARENTE. Trabalho que há décadas traz benefícios para sociedade:
As pessoas realizaram algo em cooperação, unicamente por ser uma boa ideia, foi fantástico– Jaron Lanier sobre a Word Wide Web
I – Descentralização: Qualquer pessoa interessada pode ajudar, opinar e fazer. Basta ter conhecimento necessário.
Todo e qualquer cidadão pode ajudar com cartazes, mesas de discussão, divulgação da informação ou indo além dentro da sua área de atuação. Para isto basta ter a chave, no código livre é linguagem de programação, no movimento é a INFORMAÇÃO.
Leia, informe-se e duvide, este foi o começo da revolução, agoraacostume a fazer diariamente.
II – Transparência: Suporte, fórum de discussão e conhecimento gratuito.
A chave para a comunidade do código livre é o conhecimento da linguagem, mas ela é distribuída livremente pelos próprios participantes do projeto em seus blogs ou em plataformas de discussão. Tudo documentado é acessível a quem queira começar.
O mesmo deve acontecer com o movimento, toda e qualquer informação relevante, documento, foto, video deve estar disponível para todos em uma wiki, fórum, dropbox, blogs ou em algum canal*.
E o processo de aprendizagem e a criação de material didático deve ser constante. Não menosprezando ninguém.
III – Pluralidade: Diferentes ideologias convivem pelo mesmo propósito.
Dentro do código livre são diferentes ideologias trabalhando em conjunto. Pessoas de diferentes nações com abordagem diferentes na busca de um ideal comum, o código. Cada manifestante tem opiniões e abordagem diferentes e é preciso aceitar que estamos numa luta conjunta e propostas sólidas como: fiscalizar estes documentos, propor reduções orçamentais, criar canais de debate irão a segurar estas ideologias não entrarem em conflito.
VI – Debate: Com propostas dentro do contexto.
Outro ponto muito importante do código livre é que a comunidade é ativa nos debates com propostas e não apenas com críticas descontrutivas. Dentro do movimento devemos dialogar online e offline encontrando congruência com as causas do momento propondo soluções sem devaneios e conceitos abstrados como corrupção, educação.
Pensar e estudar em propostas possíveis nem que precise criar grupos e ir atrás de representação parlamentar.
V – First Things First: Atuar dentro das prioridades
Dentro de um projeto onde se produz código sempre surgem idéias como criar uma inteligência artificial ou resolver problemas com soluções mirabolantes. Mas estas se escoem rapidamente e o foco fica no que deve ser feito para melhorar a próxima versão a ser lançada. É pensado aos poucos e com paciência (v0.1, v0.2, v0.3…). O mesmo vale para as manifestações, as pautas precisam ser levadas uma de cada vez de forma organizada e o mais sólidas possíveis, para as ruas, para os governantes e para as urnas. Talvez devêssemos pensar em versão Outubro 2013?
Terminando
Outro ponto bem importante da comunidade de código livre é que as pessoas discutem, comentam, absorvem ideias e linkam textos. Tudo que escrevi aqui pode ser ingênuo mas é um start para uma discussão de como o movimento irá se organizar sem perder sua horizontalidade, seu intuito espontâneo e conviver com sua pluralidade. Continuando forte e sem risco.
*Atualmente não temos uma plataforma coerente para discussão. O facebook apresenta sérios problemas em relação a bolha de filtros, layout que não incentiva a discussão e o arquivamento das mensagens.
UPDATE: Já vem surgindo boas iniciativas para este problema. Criaram umTrello para que todos opinem, votem e recomedem pautas.
Por onde andam os colaboradores?
Post provocativo: o que houve com o blog? 🙂