Semana passada estive na Maker Faire in Roma, a primeira edição completa organizada fora dos Estados Unidos. Eu esperava algo bem pequeno, mas quando vi o prédio onde seria o evento já percebi que algo muito importante estava acontecendo.
O Palazzo dei Congressi é um dos prédios construídos por Mussolini para abrigar uma feira internacional que nunca aconteceu devido à Segunda Guerra Mundial. A feira tinha o objetivo, dentre outros, de mostrar a produtividade industrial do regime fascista.
70 anos depois, a Maker Faire mostrou a produtividade da cultura maker em toda a Europa. Mais de 200 grupos expuseram na feira suas criações de fundo de quintal. Brinquedos, impressoras, instrumentos musicais, e robôs, fabricados em casa ou em pequenos escritórios, com materiais de baixo custo e tecnologias de produção simples.
Bicicleta com quadro de madeira.
Scanner de objetos em 3 dimensões feito com webcam e feixe de laser simples.
Luva de realidade virtual baseada em Arduino e sensores de flexão.
Balão metereológico baseado em Arduino e gás hélio.
Almofada que responde ao usuário com grunhidos e vibração.
Instrumentos musicais costurados em tecido.
Jogo de tabuleiro baseado em sensor de ondas cerebrais plugado numa Arduino.
Sequestrado de carbono baseado em cultura de algas.
Esses foram alguns dos projetos que eu consegui ver e falar com os makers, porém, muitos não dava nem pra chegar perto, pois a feira estava lotada! A visitação foi massiva. A foto abaixo é de um dos 10 pavilhões, todos apinhados de crianças e adultos querendo saber como é que o sujeito fez aquela coisa.
Chris Anderson, anuncia no livro Makers (disponível em português) que estamos presenciando uma nova revolução industrial. O que hoje é uma brincadeira de hobbistas pode virar no futuro um modo de produção generalizado. Ao invés de comprar produtos industrializados, as pessoas iriam fabricar o que precisam em suas casas ou em birôs de fabricação próximos à sua casa.
Na minha opinião, o movimento ainda não adquiriu as características de um sistema de produção global que justifique chamar de revolução. A sustentabilidade ainda é uma grande incógnita, tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista ambiental. Porém, acredito que terá grande relevância para as futuras gerações.
Hoje um dos grandes desafios do atual sistema produtivo é a formação de mão-de-obra técnica e, ao mesmo tempo, criativa. A cultura maker cria motivação para desenvolver essas habilidades durante o tempo ocioso. Ela cria uma ponte produtiva entre o mundo do trabalho e o mundo da vida pessoal. Os produtos feitos pelos makers podem não ser úteis, mas o processo de produção gera um conhecimento muito mais precisoso que o próprio produto. No mercado de trabalho, isso é um grande diferencial.
Os pais que já sacaram isso estão imergindo seus filhos na cultura maker. Meu filho, por exemplo, já brinca com Scratch e Arduino. Na Maker Faire, vi dezenas de crianças como ele. Os europeus vêm na cultura maker uma aposta para superar as contradições do sistema produtivo atual, que levou a maior parte das fábricas (e empregos) para a China. Eu acredito que a cultura maker tem maior potencial em transformar os hábitos de consumo, de uma perspectiva passiva e desinformada, para uma perspectiva consciente e engajada.