O plano aberto começa com uma pergunta. Pode
não se saber exatamente onde se quer chegar com
o plano. O plano em si é desenvolvido em sua
execução. A pergunta não é direcionada a algo ou
alguém, é uma pergunta aberta. Qualquer pessoa
pode respondê-la, porém, a pergunta inicial deve
ser respondida, mesmo que sejam muitas as
respostas. O importante para o plano aberto é que
o resultado do plano sirva aos vários fins. A Ciência
trabalha com esse tipo de plano.
O plano livre começa pelo fim, ou melhor, pelos
fins. Pelos fins atingidos por outros projetos, pela
reação às limitações impostas por eles, por suas
falhas e frustrações. É uma espécie de trabalho
terapêutico onde as intenções são repensadas
constantemente. O meio é fundamental, pois não há
fim para o plano livre. O plano é continuar sempre,
sem objetivos definidos. Ao invés de fins, o
resultado de um plano livre são vários começos,
vários outros planos que surgem a partir deste.
Planos que, por sua vez, podem ser fechados,
abertos ou livres.
Já parei muitas vezes para pensar o que é afinal o Design Livre. Tentar encaixá-lo em uma definição a ponto de poder compará-lo a outros Designs, como o Design de Produto, Gráfico, de Interação, Interiores, de/para Experiência do Usuário, e muito outros.
Procurei, e neguei um a um.
Design Livre não é metodologia. O que é? Metodologia é um modo de conduzir, de analisar, de definir, categorizar. E o DL? não conduz, não analisa, não define, não categoriza.
Design Livre não é método. O que é? Método é um conjunto de instrumentos e ferramentas orientadas a um objetivo. E o DL? não prediz instrumentos ou ferramentas, muito menos apresenta um objetivo único.
Design Livre não é disciplina. O que é? Disciplina é um conjunto de conhecimentos teóricos.
E o DL? não define nenhum corpo de conhecimentos teóricos.
Design Livre não é técnica. O que é? Técnica é um punhadinho de instrumentos e ferramentas orientadas a um objetivo. E o DL? Não.
Design Livre não é ferramenta. O que é? Ferramenta é um conjunto de procedimentos com objetivo modificável. E o DL? não é um conjunto de procedimentos.
Design Livre não é instrumento. O que é? Instrumento é um conjunto de procedimentos com objetivo fixo. E o DL? Não.
Design Livre não é regra. O que é? Regra é algo criado para definir o que é normal e o que é anormal. E o DL? Regra, que regra?
Então?
Então talvez não exista uma solução única (o que na verdade eu creio que seja).
No entanto, gosto de pensar que Design Livre é práxis.
Práxis, conforme Marx, é uma atividade teórico-prática onde a teoria é modificada pela prática e a prática pela teoria. Práxis é uma ação de transformação do mundo pelo sujeito e do sujeito pelo mundo transformado.
Práxis não é a mesma coisa que Prática. A prática é ação formalizadora, que confirma o paradigma predominante. A práxis é ação reflexiva, onde o sujeito assume sua responsabilidade, com consciência e escolhas justificadas. É alterar as circunstâncias, entender seus resultados e as novas circunstâncias geradas. Para Marx essa compreensão evita a cristalização das ideias, a criação de dogmas, alienações, dando liberdade aos sujeitos.
Morin apresenta a práxis como um conjunto de atividades a partir uma competência, em nosso caso a competência de projetar. Atividades estas que efetuam transformações, produções, performances.
Design Livre é a práxis da liberdade de projetar. É o Calvinbol do Design!
Bibliografia
Thiollent, Michel. Metodologia da Pesquisa-ação.
Vassão, Caio Adorno. Arquitetura Livre: complexidade, metadesign e ciência nômade.
Comunidade Faberludens. Design Livre.
Morin, Edgar. O Método I: a natureza da natureza.
Coelho, Luiz Antônio L. (org). Conceitos-chave em design.
Wikipédia. Artigos: Práxis, Metodologia, Método, Design.
Watterson, Bill. Tudo do Calvin & Haroldo.