Este livro se apoia em uma série de viagens conduzida entre 2011 e 2012, por Fabien Eychenne sob o apoio da instituição francesa Fing, em vários Fab Labs do mundo, cuja finalidade foi a de entender melhor, ir mais longe, encontrar os atores que criaram e continuam dando vida aos Fab Labs, chegar mais próximo dos usuários que os frequentam e desenhar uma tipologia.
O livro tem interesse por descobrir verdadeiramente estes espaços, descrever as especificidades, os problemas; tentando assim desenhar um retrato fiel dos diferentes encontros realizados durante as visitas experimentais. Ao interrogar a comunidade criativa e a equipe que trabalha nestes Fab Labs, o objetivo foi sempre o de relatar o funcionamento do dia-a-dia, observar os usos, práticas, projetos e compreender os modelos econômicos emergentes.
A reedição brasileira traz consigo esta pesquisa realizada, adicionando a experiência vivencial do primeiro ano da rede no Brasil. Através do olhar de Heloisa Neves, o texto francês ganha uma cor brasileira, e contornos do que pode vir a ser a rede no país.
Semana passada estive na Maker Faire in Roma, a primeira edição completa organizada fora dos Estados Unidos. Eu esperava algo bem pequeno, mas quando vi o prédio onde seria o evento já percebi que algo muito importante estava acontecendo.
O Palazzo dei Congressi é um dos prédios construídos por Mussolini para abrigar uma feira internacional que nunca aconteceu devido à Segunda Guerra Mundial. A feira tinha o objetivo, dentre outros, de mostrar a produtividade industrial do regime fascista.
70 anos depois, a Maker Faire mostrou a produtividade da cultura maker em toda a Europa. Mais de 200 grupos expuseram na feira suas criações de fundo de quintal. Brinquedos, impressoras, instrumentos musicais, e robôs, fabricados em casa ou em pequenos escritórios, com materiais de baixo custo e tecnologias de produção simples.
Bicicleta com quadro de madeira.
Scanner de objetos em 3 dimensões feito com webcam e feixe de laser simples.
Luva de realidade virtual baseada em Arduino e sensores de flexão.
Balão metereológico baseado em Arduino e gás hélio.
Almofada que responde ao usuário com grunhidos e vibração.
Instrumentos musicais costurados em tecido.
Jogo de tabuleiro baseado em sensor de ondas cerebrais plugado numa Arduino.
Sequestrado de carbono baseado em cultura de algas.
Esses foram alguns dos projetos que eu consegui ver e falar com os makers, porém, muitos não dava nem pra chegar perto, pois a feira estava lotada! A visitação foi massiva. A foto abaixo é de um dos 10 pavilhões, todos apinhados de crianças e adultos querendo saber como é que o sujeito fez aquela coisa.
Chris Anderson, anuncia no livro Makers (disponível em português) que estamos presenciando uma nova revolução industrial. O que hoje é uma brincadeira de hobbistas pode virar no futuro um modo de produção generalizado. Ao invés de comprar produtos industrializados, as pessoas iriam fabricar o que precisam em suas casas ou em birôs de fabricação próximos à sua casa.
Na minha opinião, o movimento ainda não adquiriu as características de um sistema de produção global que justifique chamar de revolução. A sustentabilidade ainda é uma grande incógnita, tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista ambiental. Porém, acredito que terá grande relevância para as futuras gerações.
Hoje um dos grandes desafios do atual sistema produtivo é a formação de mão-de-obra técnica e, ao mesmo tempo, criativa. A cultura maker cria motivação para desenvolver essas habilidades durante o tempo ocioso. Ela cria uma ponte produtiva entre o mundo do trabalho e o mundo da vida pessoal. Os produtos feitos pelos makers podem não ser úteis, mas o processo de produção gera um conhecimento muito mais precisoso que o próprio produto. No mercado de trabalho, isso é um grande diferencial.
Os pais que já sacaram isso estão imergindo seus filhos na cultura maker. Meu filho, por exemplo, já brinca com Scratch e Arduino. Na Maker Faire, vi dezenas de crianças como ele. Os europeus vêm na cultura maker uma aposta para superar as contradições do sistema produtivo atual, que levou a maior parte das fábricas (e empregos) para a China. Eu acredito que a cultura maker tem maior potencial em transformar os hábitos de consumo, de uma perspectiva passiva e desinformada, para uma perspectiva consciente e engajada.
Uma das primeiras coisas que toda criança aprende é a projetar, ou seja, a transformar a imaginação em realidade. Na verdade, o projetar é uma das maneiras como a criança aprende sobre suas próprias capacidades, as capacidades dos objetos ao redor, e os limites impostos pela sociedade sobre ambos.
A criança tem uma ideia e projeta essa ideia num objeto. O objeto é modificado, seja no seu significado, uso, ou funcionamento. As modificações mais radicais acontecem quando objetos são combinados de forma inusitada. Novas ideias surgem à partir dessas modificações e o projeto avança.
O projeto, vale lembrar, acontece sempre dentro de uma estória. A criança projeta para atuar na estória, contracenando com outras crianças e adultos. A narrativa, assim como o projeto, combina elementos reais e imaginários e permite a criança considerar outras possibilidades de atuação. A narrativa dá sentido ao projeto e o projeto, por sua vez, dá continuidade à narrativa. Os vídeos da etnografia Território do Brincar mostra isso claramente.
Os objetos podem também ser o ponto de partida de uma narrativa. Isso é facilmente observável se a criança for levada para um ambiente estranho, com objetos que ela não conhece, onde ela deve esperar por algum tempo um adulto fazer algo. A criança dá sentido à situação sem sentido.
A criança explora propiciações que jamais adultos considerariam. Aperta aqui, puxa dali, entorta, tenta de outro jeito. A criatividade no uso pode ir muito além da criatividade no projeto. Veja como a cadeira abaixo se transforma, pouco a pouco, num escorrega.
Crianças que são estimuladas apenas a brincar com brinquedos industrializados da maneira como eles foram projetados para ser brincados, não desenvolvem a habilidade de projetar no mesmo grau.
Brinquedos com formas realistas demais, materiais inflexíveis, marcas, manuais de instrução são as várias formas como a indústria de brinquedos evita que o projeto da criança aconteça espontaneamente. O brinquedo perde a graça rapidamente e o consumismo impera.
Por outro lado, brinquedos feitos com materiais flexíveis, modificáveis, de formas genéricas, customizáveis, modulares, tem maior durabilidade, em termos de diversão. O esforço inicial de brincar é maior, pois o sentido não vem embutido.
Algumas pessoas perdem esse despudor de projetar livremente quando crescem, outras mantém. As escolas que trabalham com pedagogia de projeto ajudam a manter e a desenvolver as habilidades de projetar, porém, em última análise, esta é uma questão social. Se a escola é um oásis no meio de uma sociedade que inibe a liberdade de projetar, não há garantia alguma de que a criança desenvolverá estas habilidades. Pode acontecer o contrário, da criança se sentir envergonhada porque em casa brinca somente com brinquedos de madeira, enquanto que o amigo brinca com bonecos de personagens de televisão famosos.
O professor Antonio Fontoura defende que design seja parte do currículo escolar básico. Eu acho uma boa ideia, porém, sem uma cultura de projeto, não fará sentido. Em primeiro lugar, é preciso desfazer essa noção de que só designer profissional faz design. Como a gente diz no Design Livre: “libertar o design do designer”. Sem isso, como justificar que toda criança deve aprender design?
Em segundo, é preciso tratar as crianças como especialistas, ao invés de alunos. Trabalhar à partir do que elas já sabem fazer e expandir. Os materiais devem ser os disponíveis na região. A pluralidade de materiais, métodos, ferramentas, sentidos deve ser o principal valor a ser cultivado.
Em terceiro, a mudança deve ir além da escola. Programas de televisão, revistas, websites, lojas de brinquedos teriam que dar mais espaço ao projeto infantil. Haveriam concursos, exposições, e prêmios para o design das crianças.
O design já é livre enquanto criança. Se mantermos ele livre o resto da vida, então teremos um outro tipo de sociedade, menos consumista creio eu.
O Emilio me pediu pra gravar um vídeo curto para exibir no lançamento do Diseño Libre, a tradução para o Espanhol do livro que deu origem a este site. Seria legal que outros autores e leitores pudessem colaborar com vídeos assim também, falando um pouco do que acham do assunto.
Na próxima sexta feira, dia 05/07, às 17 horas na sala P11, apresento os resultados do meu trabalho de conclusão de curso em Design de Interação sobre Design, Inovação e Software Livre durante a 14ª edição do Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS).
A conversa será sobre design livre (claro), e também sobre propriedade intelectual, história da computação, open design e design livre, inovação aberta, histórico das invenções, colaboração em rede, revolução científica e industrial.
A apresentação será inédita, já que na outra oportunidade que falei sobre o trabalho – em Recife no C.E.S.A.R., durante o Encontro de Conhecimentos Livres – tinha acabado de terminar o curso. Esta versão conta com mais reflexões e referências sobre design e design de interação, além de mais conteúdo sobre a contracultura do desenho industrial e cibernética.
Espero quem estiver em Porto Alegre para conversar, pois claro, também haverá tempo para debate! (Confiram os slides da apresentação aqui.)
El pasado martes se realizó en San Salvador la presentación oficial de Diseño Libre, la traducción del libro Design Livre escrito por Faber Ludens. Tuve la oportunidad de participar a la presentación junto a Paula Álvarez, facilitadora de La Casa Tomada, así como otros colaboradores en la creación del libro.
La Casa tomada es un espacio colaborativo en el cual personas de diversos ámbitos (músicos, artistas, escritores y académicos entre otros) realizan proyectos en conjunto. Desde hace más de un año, muchos de estos colectivos han encontrado intereses en común y colaborado en diferentes proyectos, lo cual permitió que este proyecto tomara forma dentro de un ambiente de participación abierta.
La traducción del libro Design Livre fue realizada junto con personas que pertenecían a varios colectivos salvadoreños, asesorada por profesores y estudiantes de portugués del Centro Cultural de Brasil en El Salvador. Usamos la metodología descrita en el texto original del libro como guía para la traducción, organizando un booksprint en el que varios voluntarios trabajaron para la redacción y edición del contenido. Además, un colectivo de músicos aportó posteriormente letras de sus canciones para el libro, y un colectivo de difusión del idioma nahuat (lengua indígena de El Salvador) aportó un poema inédito sobre las cuatro libertades del software libre.
Durante la presentación se mostraron las primeras copias, y se discutió junto a Rodrigo Gonzatto sobre la importancia del Design Livre en la región. También se habló de nuestros deseos de traducir Corais al español como un próximo proyecto, además de la posibilidad y necesidad de apertura de comunidades de diseño libre en latinoamérica.
Publicaremos los archivos fuentes del libro en los próximos días. ¡Invitamos a la comunidad latinoamericana a formar parte de este movimiento liberador del diseño!
Fato que elas (as manifestações) tomaram dimensões não esperadas, com muitas pessoas dispostas a ajudar e outras querendo sabotar. Assustando governos, jornais e até os que encabeçaram as primeiras passeatas.
Cada dia que passa mais dúvidas vão surgindo na cabeça de todos: Como gerenciar tantas pessoas? O que estamos protestando? Quem são as pessoas que saqueiam e vandalizam? Porque a PM mudou de comportamento? Como aproveitar toda essa boa vontade? Pode tudo isto virar em nada? Ou acabar indo pro lado errado?
Questões que só os historiadores poderão responder, mas é fato que a grande mídia e os ‘políticos’ espertos inverteram seus discursos a fim de tentar tirar proveito de alguma forma deste movimento que não possui líderes, não possui ordem específica e se comporta imprevisivelmente.
Por isso acredito que podemos aprender muito com a comunidade do Opensource, também chamda de Código Livre, onde um número ilimitados de pessoas trabalham em conjunto em um código específico e de maneira TRANSPARENTE. Trabalho que há décadas traz benefícios para sociedade:
As pessoas realizaram algo em cooperação, unicamente por ser uma boa ideia, foi fantástico– Jaron Lanier sobre a Word Wide Web
I – Descentralização: Qualquer pessoa interessada pode ajudar, opinar e fazer. Basta ter conhecimento necessário.
Todo e qualquer cidadão pode ajudar com cartazes, mesas de discussão, divulgação da informação ou indo além dentro da sua área de atuação. Para isto basta ter a chave, no código livre é linguagem de programação, no movimento é a INFORMAÇÃO.
Leia, informe-se e duvide, este foi o começo da revolução, agoraacostume a fazer diariamente.
II – Transparência: Suporte, fórum de discussão e conhecimento gratuito.
A chave para a comunidade do código livre é o conhecimento da linguagem, mas ela é distribuída livremente pelos próprios participantes do projeto em seus blogs ou em plataformas de discussão. Tudo documentado é acessível a quem queira começar.
O mesmo deve acontecer com o movimento, toda e qualquer informação relevante, documento, foto, video deve estar disponível para todos em uma wiki, fórum, dropbox, blogs ou em algum canal*.
E o processo de aprendizagem e a criação de material didático deve ser constante. Não menosprezando ninguém.
III – Pluralidade: Diferentes ideologias convivem pelo mesmo propósito.
Dentro do código livre são diferentes ideologias trabalhando em conjunto. Pessoas de diferentes nações com abordagem diferentes na busca de um ideal comum, o código. Cada manifestante tem opiniões e abordagem diferentes e é preciso aceitar que estamos numa luta conjunta e propostas sólidas como: fiscalizar estes documentos, propor reduções orçamentais, criar canais de debate irão a segurar estas ideologias não entrarem em conflito.
VI – Debate: Com propostas dentro do contexto.
Outro ponto muito importante do código livre é que a comunidade é ativa nos debates com propostas e não apenas com críticas descontrutivas. Dentro do movimento devemos dialogar online e offline encontrando congruência com as causas do momento propondo soluções sem devaneios e conceitos abstrados como corrupção, educação.
Pensar e estudar em propostas possíveis nem que precise criar grupos e ir atrás de representação parlamentar.
V – First Things First: Atuar dentro das prioridades
Dentro de um projeto onde se produz código sempre surgem idéias como criar uma inteligência artificial ou resolver problemas com soluções mirabolantes. Mas estas se escoem rapidamente e o foco fica no que deve ser feito para melhorar a próxima versão a ser lançada. É pensado aos poucos e com paciência (v0.1, v0.2, v0.3…). O mesmo vale para as manifestações, as pautas precisam ser levadas uma de cada vez de forma organizada e o mais sólidas possíveis, para as ruas, para os governantes e para as urnas. Talvez devêssemos pensar em versão Outubro 2013?
Terminando
Outro ponto bem importante da comunidade de código livre é que as pessoas discutem, comentam, absorvem ideias e linkam textos. Tudo que escrevi aqui pode ser ingênuo mas é um start para uma discussão de como o movimento irá se organizar sem perder sua horizontalidade, seu intuito espontâneo e conviver com sua pluralidade. Continuando forte e sem risco.
*Atualmente não temos uma plataforma coerente para discussão. O facebook apresenta sérios problemas em relação a bolha de filtros, layout que não incentiva a discussão e o arquivamento das mensagens. UPDATE: Já vem surgindo boas iniciativas para este problema. Criaram umTrello para que todos opinem, votem e recomedem pautas.