Primeira conversa sobre Design Livre registrada no Faber-Ludens

Vasculhando no meu email, encontrei a primeira conversa em que o termo foi mencionado, em 2009. O Gonzatto estava fazendo um trabalho sobre metodologias de design na disciplina do Renato Costa e mandou por email um rascunho de um texto que usava o termo pela primeira vez. O texto dava nome a prática de projeto que já estava sendo desenvolvida no Instituto naquele momento, com projetos de alunos abertos, licenças creative commons e participação de usuários.

Rodrigo Gonzatto  14 de julho de 2009 16:38
Para: Frederick van Amstel , Renato Costa

Olá Fred e Renato! Podem me ajudar com duas dúvidas?

Sabem se existe alguma metodologia de Design
que envolva ainda MAIS os usuários (ou melhor, as pessoas)
que o DCU e o Design Participativo?

E as comunidades de código livre, são um exemplo de uso da metodologia participativa?

(Tô com uma idéia na cabeça…)


Frederick van Amstel  14 de julho de 2009 17:02
Para: Rodrigo Gonzatto
Cc: Renato Costa
Sugiro que vc dê uma lida no capítulo 2 da minha dissertação onde
tento uma aproximação entre a metodologia bazar do Software Livre e o
Design Participativo.
http://usabilidoido.com.br/das_interfaces_as_interacoes_design_participativo_do_portal_brofficeorg.htmlUma coisa que quiz manter na minha abordagem é a figura do designer,
não como criador, mas como mediador do processo. Porém, tem gente que
acredita que é possível design sem designer, como no caso das
metrópoles não-planejadas, fruto do micro-planejamento de diversas
entidades.Eu chamaria isso de Design Coletivo, mas não encontrei um referencial
robusto durante minha pesquisa de mestrado.Alguns textos que se aproximam disso:
http://www.cs.chalmers.se/idc/theses/04/pdf/tannfors.kristensen.pdf
http://l3d.cs.colorado.edu/~gerhard/papers/Interact-2007.pdf
http://ojs.ruc.dk/index.php/pdc/article/view/235

 


Rodrigo Gonzatto 14 de julho de 2009 18:42
Para: Frederick van Amstel

Vou ler suas referências, Fred. Preciso ler, ler, ler! hehehehe

Por ora, deixo abaixo um texto que elaborei hoje de manhã,
em meio às minhas divagações sobre metodologias de design.

Encontrei, sobre o assunto essa referência: http://br-linux.org/linux/node/8522
Que é um projeto que visa o desenvolvimento do design social e a promoção do ofício do design.
Interessantíssimo.

Essa ideia me surgiu pensando sobre como um “Design centrado em mim”
poderia ou não poderia mudar a ideia de “Eu fazendo design para ser usado por outros”.

Pois:

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Design Livre: o processo liberto

 

Design livre é a mãe que ensina a filha à cozinhar, ao invés de fazer a comida que a filha gosta (Centrado no Usuário) ou chamar a filha para cozinhar junto (Design Participativo). É um passo para a difusão da cultura do hack e da gambiarra, onde, se eu não gosto de algo, eu mesmo altero, arrumo, melhoro, transformo ou personalizo.

No Design Centrado no Usuário, um grupo de designers volta seu olhar para outra pessoa: o usuário. No Design Participativo, o designer junta-se aos usuários para projetar. No Design livre, a proposta é que os designers transformem usuários em designers. E estes, sim, é que realizam o projeto. A partir daí, aqueles designers, iniciais, agora só colaboram, e vão assessorando e sugerindo ideias para o projeto que estes usuários, que agora são designers, estão desenvolvendo.

De início, em contraponto aos problemas do DCU, penso o qão interessante seria pensar em um “Design centrado em Mim”. Mas, assim como é  dificil conhecer o outro (no DCU), que também tem seus problemas. Mas pense nas possibilidade de um “design centrado em Nós”, ao invés do “Design centrado Neles”, tão comum no DCU.

Comercialmente, a princípio, isto parece ser um desastre. Mas tente imaginar Design livre como uma metodologia de Design Social. O nome desta proposta poderia ser “Design liberto”, “Design libertário”, podem ser propostas muitas nomeclaturas. Talvez esta proposta resuma os mais evidentes problemas de algumas metodologias do design à um problema de ensino e educação.

O que interessa é pensar em novas propostas de design, que ajudem a criar uma sociedade mais crítica e (como o Fred costuma sempre ratificar) dê poder para as pessoas.

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Fico em dúvida se posto isso logo (e aquele meu modelo de design, mais lúdico)
ou desenolvo mais antes de postar. Pode me dar uma sugestão?


Renato Costa  14 de julho de 2009 20:57
Para: Frederick van Amstel
Cc: Rodrigo Gonzatto
Pois é, esse assunto dá um bom debate! Se o designer vira somente um
mediador, ele ainda é um designer? O que caracteriza a atuação do
designer? Para mim, a criatividade é uma habilidade essencial para um
designer. Mas acho que para ser designer não deveria ser preciso um
curso superior. O Design é um tipo de conhecimento que todos deveriam
ter contato ainda no ensino fundamental e médio. É como o
empreendendorismo. São conhecimentos que formam um cidadão ativo,
criativo, crítico. Se o designer virar um mediador, ele estará
delegando o processo criativo aos participantes. E esse mediador terá
que ensinar alguns conceito básicos de design para os participantes,
mesmo que de forma indireta. Então, na verdade, teremos uma grande
equipe de designers coordenados por um designer mais experiente.
Não sei qual é essa sua idéia, mas uma referência que posso te passar
é esse livro: http://books.google.com.br/books?id=UHLv3zg_r9EC&pg=PP1&dq=unilabor
Tem uma resenha do livro aqui:
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/article/view/417/9948
É sobre a Unilabor, uma cooperativa de fabricação de móveis.Abs,
Renato

Frederick van Amstel  15 de julho de 2009 03:46
Para: Rodrigo Gonzatto
Posta logo! Aplique sua própria metodologia para desenvolvê-la!

O Gonzatto postou e o texto virou referência.

Author: fred

Frederick van Amstel é um dos fundadores do Instituto Faber-Ludens, editor do blog Usabilidoido e coordenador do Living Lab Corais. Bacharel em Comunicação (UFPR) e Mestre em Tecnologia (UTFPR), Frederick vive na Holanda, onde realiza pesquisa de doutorando sobre Design Participativo (Universidade Twente). Frederick foi jurado dos concursos IF Design Awards e Peixe Grande. Prestou consultoria em Design de Interação para empresas como Electrolux, InfoGlobo, Magazine Luiza, Tramontina e Duty Free Dufry.